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quarta-feira, 29 de junho de 2016

"A minha colecção de berlindes" - conto

 Certa vez, fui ao Centro Cultural perguntar se estavam interessados em fazer uma exposição com toda a minha colecção de berlindes.
 Disseram prontamente que não, que era uma coisa que não despertaria interesse algum da parte do público. Estúpidos! Eu que arduamente e ao longo de vinte e tal anos,  tinha reunido 17.638 berlindes! Tinha-os de todas as cores e variados tamanhos, de todos os cantos do mundo!
 Disseram que não. Preferiam mostrar ás pessoas as criações daquela pseudo-artista gorda e parva, afilhada das elites.  E como eram bonitos os meus berlindes...Fiquei  piúrso, , com vontade de esganar todos aqueles intelectualóides de merda (que deus me perdoe).
 Regressei a casa com um tal desejo de vingança que tive de beber uma bagaceira velha de penalty, mas, com os nervos, falhei a grande penalidade e entornei por mim abaixo o tão precioso liquído.
 Três dias depois, estava á porta do Centro Cultural a fazer uma espera aquelas bestas. Esperei ca tempos, mas não fora em vão.Começaram a saír  e a dirigirem-se para os seus carrinhos de alta cilindrada. Segui sorrateiramente a besta-mor, aquele que tão friamente me havia dito o NÃO.
 Quando parou junto ao carro, puxei da minha fisga Xpto que tinha adquirido para o efeito, estiquei-a ao máximo e, como projéctil, pus-lhe um bifa verde-jade que tinha comprado a um xamã sul-africano em 1992...e pimba!!! Mesmo nos cornos! Caíu inanimado. Recolhi rapidamente o berlinde, que tinha ido parar debaixo de um carro mais á frente. Verifiquei que não havia ninguém a presenciar, tirei o passa-montanhas da carola e afastei-me calmamente do local. Estava satisfeito com aquela refeição fria gourmet que havia servido ao meu desejo de vingança. No dia seguinte vi nos noticiários que o cabrão havia falecido  e a sua morte era agora um mistério para a bófia.
 Hoje em dia sou um artista plástico de sucesso. Tirei um curso de belas artes e vi recentemente 
 uma das minhas obras expostas naquele malogrado Centro Cultural: um Audi A6 revestido com centenas de brilhantes berlindes que usei da minha própria colecção.
 A exposição foi um sucesso.
 Fmi

terça-feira, 28 de junho de 2016

"Arménio da Giribita" - conto


 Tava tudo em alvoroço nos Casais da Giribita. Arménio tinha lançado a polémica: ia atravessar a nado o Ribeiro de Alpalhoa, conhecido pelos fortes rápidos e águas gélidas.
 - Vou mergulhar junto ao local onde encalhou o iate do Cristiano Ronaldo. Vai ser uma grande festa, com a banda de Bucelas a tocar a 5ª Sinfonia de Beethoven e tudo! - anunciou em praça pública.
 Arménio mal sabia nadar, mas quando punha uma coisa na cabeça era para levar até ao fim. Começou a treinar no tanque da horta dos seus pais, já ia para 6 meses. Treinos duros, chegando ao ponto de calçar umas luvas e umas meias de lã grossa e fechar-se dentro da arca congeladora durante largos minutos.
 A sua namorada (já desde os tempos da escola), Maria Sarrafo, apoiava-o sempre nestas iniciativas, mesmo sabendo que ele era maluco. Esta vez não seria excepção.  Como queria executar o feito durante o mẽs de Agosto (estávamos em Junho), altura em que a sua terrinha estaria pejada de imigrantes que ali estariam de férias, foi a Lisboa comprar uns calções especiais, feitos duma malha sintéctica que imitava a pele de tubarão, e também para se aconselhar junto de alguns atletas profissionais do Algés & Dafundo.
 De regresso aos Casais da Giribita, o autocarro no qual viajava teve um aparatoso acidente: chocou a mais de 100 km/h com a carrinha do canil municipal, carregada com canitos vadios que tinham sido apanhados nas redondezas durante os últimos dias. Não houve mortes, apenas alguns feridos ligeiros, tendo os pobres cães levado a melhor, pois inesperada embora violentamente, tinham reconquistado a sua tão preciosa liberdade.
 Ora no meio da atordoada matilha que se punha em fuga, quem é que o Arménio viu? O Putchi! O podengo que houvera desaparecido de sua casa há muito tempo, que era o seu mais querido animal de estimação (tinha vários, incluindo uma cabra albanesa das montanhas) e que pensava ter perdido para sempre.
   Este acaso da "Estranha Providência" alterou todo o panorama psicológico-mental do nosso amigo. Foi imediatamente falar com o presidente da junta de freguesia a dizer que ia desistir da travessia do ribeiro, pois a sua vida iniciava agora um novo ciclo. Pediu imensas desculpas, e assim deu por terminada a sua vontade de realizar um dos maiores feitos que aquela terra já houvera aspirado.
 Tinha agora um novo e único objectivo em mente:
 Iria a Fátima, não a pé, mas de quatro, como o seu fiel amigo que o acompanharia..

 Fmi

sábado, 4 de junho de 2016

"Sapo dos Montes" - Brain Estorving 1

O sapo dos montes era um pequeno ser mágico que vivia perdido na planície do Além. Além-mar, Além-terra, tanto faz, desde que se senti-se bem. E sentia-se.Não gostava de jantar e tinha a cabeça redondinha, como uma pinha de amaranho. Arrumava-se ao cutelo, num cantinho próprio que os deuses do limbo lhe construíram na madrugada da Existência. Nã era mundano e sentia-se pleno, mesmo quando era cirurgicamente  enxovalhado. Sempre a seu lado, numa mesa de operações, um divertido coração "coquette" ria-se desenvergonhadamente. Ás vezes pedia-lhe incenso, mas este quase sempre lhe dava mirra, e quando isso acontecia, era uma festa, uma valente farra que se estendia até ao Pantanal. Aí, uma porca torcia o rabo de um babuíno, e através dos lancinantes gritos de dor e com a ajuda de um telefone analógico, o sapo dos montes conseguia facilmente abrir as portas da percepção, havendo apenas como testemunha, um guarda-livros que trabalhava no Palácio Máximo das Virtudes, em Sta.Iria da Azóia. Para fechá-las era o cabo dos trabalhos...

Fmi