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terça-feira, 28 de junho de 2016

"Arménio da Giribita" - conto


 Tava tudo em alvoroço nos Casais da Giribita. Arménio tinha lançado a polémica: ia atravessar a nado o Ribeiro de Alpalhoa, conhecido pelos fortes rápidos e águas gélidas.
 - Vou mergulhar junto ao local onde encalhou o iate do Cristiano Ronaldo. Vai ser uma grande festa, com a banda de Bucelas a tocar a 5ª Sinfonia de Beethoven e tudo! - anunciou em praça pública.
 Arménio mal sabia nadar, mas quando punha uma coisa na cabeça era para levar até ao fim. Começou a treinar no tanque da horta dos seus pais, já ia para 6 meses. Treinos duros, chegando ao ponto de calçar umas luvas e umas meias de lã grossa e fechar-se dentro da arca congeladora durante largos minutos.
 A sua namorada (já desde os tempos da escola), Maria Sarrafo, apoiava-o sempre nestas iniciativas, mesmo sabendo que ele era maluco. Esta vez não seria excepção.  Como queria executar o feito durante o mẽs de Agosto (estávamos em Junho), altura em que a sua terrinha estaria pejada de imigrantes que ali estariam de férias, foi a Lisboa comprar uns calções especiais, feitos duma malha sintéctica que imitava a pele de tubarão, e também para se aconselhar junto de alguns atletas profissionais do Algés & Dafundo.
 De regresso aos Casais da Giribita, o autocarro no qual viajava teve um aparatoso acidente: chocou a mais de 100 km/h com a carrinha do canil municipal, carregada com canitos vadios que tinham sido apanhados nas redondezas durante os últimos dias. Não houve mortes, apenas alguns feridos ligeiros, tendo os pobres cães levado a melhor, pois inesperada embora violentamente, tinham reconquistado a sua tão preciosa liberdade.
 Ora no meio da atordoada matilha que se punha em fuga, quem é que o Arménio viu? O Putchi! O podengo que houvera desaparecido de sua casa há muito tempo, que era o seu mais querido animal de estimação (tinha vários, incluindo uma cabra albanesa das montanhas) e que pensava ter perdido para sempre.
   Este acaso da "Estranha Providência" alterou todo o panorama psicológico-mental do nosso amigo. Foi imediatamente falar com o presidente da junta de freguesia a dizer que ia desistir da travessia do ribeiro, pois a sua vida iniciava agora um novo ciclo. Pediu imensas desculpas, e assim deu por terminada a sua vontade de realizar um dos maiores feitos que aquela terra já houvera aspirado.
 Tinha agora um novo e único objectivo em mente:
 Iria a Fátima, não a pé, mas de quatro, como o seu fiel amigo que o acompanharia..

 Fmi

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